"....Robert Langdon, um famoso professor de simbologia de Harvard...".
Simbologia! Quero ser Robert Langdon!
A Simbologia em O Código Da Vinci
O romance de Dan Brown é construído sobre a decodificação de símbolos escondidos em obras de arte, textos religiosos e monumentos históricos. A simbologia é usada como motor narrativo e como instrumento para questionar discursos dominantes, especialmente os religiosos.
Exemplos marcantes no livro:
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"A Última Ceia" de Leonardo da Vinci: Langdon interpreta gestos, posições e rostos como símbolos que sugerem a presença de Maria Madalena ao lado de Jesus.
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O Graal como símbolo: tradicionalmente visto como o cálice da Última Ceia, é reinterpretado no livro como um símbolo da linhagem sagrada feminina.
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O pentagrama: símbolo esotérico de equilíbrio e perfeição, é reconfigurado ao longo do romance como símbolo da divindade feminina.
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A Rosa e o Cálice: símbolos recorrentes que remetem ao sagrado feminino, à fertilidade, ao mistério e ao segredo guardado por séculos.
Esses elementos são reinterpretados em oposição à leitura dominante da Igreja, o que transforma a simbologia em campo de disputa de sentidos — um ponto especialmente rico para análises discursivas.
O que é simbologia?
Simbologia é o estudo dos símbolos e seus significados em diferentes contextos culturais, religiosos, históricos ou artísticos. Os símbolos são formas de linguagem não verbal que representam ideias, conceitos ou narrativas complexas por meio de sinais visuais, objetos, palavras ou gestos.
Embora o termo "simbologia" seja popular, o nome técnico mais apropriado no meio acadêmico é semiótica, especialmente quando se trata do estudo dos processos de significação. No entanto, "simbologia" é frequentemente usado para se referir a sistemas simbólicos específicos, como:
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Simbologia religiosa (cruzes, estrelas, ícones);
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Simbologia alquímica (elementos, transformações);
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Simbologia ocultista ou esotérica (pentagramas, selos);
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Simbologia em arte e arquitetura (ícones, proporções, composições visuais).
Simbologia como discurso
A simbologia não é neutra — os símbolos são polissêmicos, ou seja, podem carregar diferentes significados dependendo do contexto, da cultura e da ideologia. Em O Código Da Vinci, Dan Brown explora exatamente isso: como os símbolos foram apropriados, ocultados ou resignificados por instituições de poder, e como a leitura de um símbolo pode alterar a percepção da realidade histórica.
Essa ideia se conecta fortemente com a Análise do Discurso, ao mostrar que:
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Um símbolo pode veicular uma memória coletiva;
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Pode ser um instrumento de controle social ou resistência;
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Pode atuar na constituição de identidades e subjetividades.
Mas, o que é Semiótica?
A semiótica é o campo do conhecimento que estuda os signos, tudo aquilo que representa algo para alguém. Ou seja, é o estudo da construção e da interpretação de significados. Ela responde a perguntas como:
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O que é um signo?
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Como os signos produzem sentido?
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Como interpretamos imagens, palavras, gestos, rituais, sons?
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Como os sentidos se estabilizam (ou se disputam) socialmente?
Principais correntes da Semiótica
1. Semiótica de Saussure (estrutural)
Ferdinand de Saussure, linguista suíço, via o signo como a combinação de: Significante: a forma sensível (som, imagem, palavra); Significado: o conceito mental evocado por essa forma. Exemplo: a palavra "rosa" → [significante: som ou grafia "rosa"] + [significado: a ideia de flor].
Saussure valorizava o sistema de diferenças internas da linguagem: um signo só tem sentido dentro de uma rede relacional.
2. Semiótica de Peirce (triádica e pragmática)
Charles Sanders Peirce, filósofo norte-americano, propôs um modelo mais complexo, onde o signo é triádico:
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Representamen: o que aparece (imagem, palavra, som);
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Objeto: aquilo a que o signo se refere;
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Interpretante: o efeito de sentido que o signo produz na mente.
Semiótica e Discurso
A semiótica é uma tecnologia de leitura dos sentidos, e se conecta muito bem com a Análise do Discurso, especialmente quando olhamos para os signos como produtores de efeitos de verdade, subjetividade e poder.
Um mesmo signo (por exemplo, a cruz) pode significar: Redenção (para um cristão); Opressão (para um ateu que viveu perseguições); Sofrimento (em contextos coloniais, como na América Latina); Um ícone estético (em moda ou arte pop).
Assim, a semiótica revela que os signos não são fixos, mas disputados, ressignificados, negociados socialmente.
Aplicação: O Código Da Vinci e a Semiótica
No romance, os personagens são verdadeiros “leitores de signos”. A simbologia é tratada de forma quase peirciana:
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Ícones: quadros como A Última Ceia são lidos como representações visuais com camadas ocultas de sentido;
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Índices: rastros deixados por Saunière, pistas simbólicas que apontam para verdades escondidas;
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Símbolos: códigos, palavras e objetos que só têm sentido dentro de uma tradição cultural ou esotérica.
A leitura semiótica do livro revela como os signos são usados para camuflar ou revelar verdades, e como a interpretação se torna uma forma de poder.
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